A transformação do trabalho do CFO na era da “empresa inteligente”

A transformação do trabalho do CFO na era da “empresa inteligente”

Por Paulo Mendes, CFO da SAP Brasil e membro da Diretoria Vogal do IBEF-SP.

As sucessivas ondas de transformação tecnológica têm impactado as empresas de forma profunda. Um número cada vez maior de organizações está se movendo do conceito de “empresas transacionais”, que utilizam sistemas robustos de gestão empresarial (ERP), muito voltados aos processos da retaguarda do negócio – contabilidade, contas a pagar, receber etc. – para o conceito de “empresas digitais”, que adotam tecnologias mais leves e flexíveis e as estendem à linha de frente: computação em nuvem, mobilidade e inteligência artificial.

Qual seria o próximo nível dessa evolução? É a “empresa inteligente”. Nessa etapa, os sistemas da organização trabalham de forma autônoma, quase sem intervenção humana. É isso mesmo: as transações são realizadas pela máquina enquanto um profissional as assiste. E esse cenário não é de ficção científica: estamos falando do presente, de tecnologia já disponível no mercado.

A “empresa inteligente” consegue integrar diferentes soluções de gestão e controles em uma mesma plataforma, conectar as diferentes bases de dados e traduzir isso em uma única fonte da verdade para a organização. Companhias nesta fase utilizam tecnologias de Big Data analytics, inteligência artificial cognitiva, internet das coisas (IoT) e blockchain – todas essas palavras da moda ou buzzwords que você certamente já escutou. Elas conseguem processar milhões de dados, em tempo real, para simular cenários e gerar informação relevante para a tomada de decisão, com mais assertividade e transparência.

Transformar não é compactar, mas fazer diferente

Quando falamos de transformação digital de um negócio, importante frisar que não se trata de compactar processos ou simplesmente torná-los mais eficientes. Mas fazer as coisas de forma diferente – dar um salto de inovação.

A fotografia é um bom exemplo. Há algumas décadas, produzir uma foto envolvia várias etapas: captar a imagem com uma máquina, enviar o filme para revelação, imprimir e distribuir as cópias manualmente. A tecnologia permitiu reduzir o prazo de revelação de dias para horas, apenas compactando essas etapas. Mas a disrupção veio com o smartphone, que eliminou várias fases do processo: a captação, a visualização e o compartilhamento da imagem passaram a ser feitas em um único dispositivo, quase instantaneamente.

O trabalho do CFO também está se transformando com a inovação tecnológica na era da empresa inteligente. Veja três exemplos de atividades cotidianas de finanças que já estão sendo feitas de outra forma:

Apresentação para o board – O CFO é convocado para fazer uma explanação para o Conselho. Etapas do processo antigo: pedir para um analista extrair dados de uma ou mais fontes, limpar os dados, transpor para a planilha, analisar os dados, produzir o relatório e inserir no arquivo de apresentação. Detalhe: se durante a reunião um membro do board pedir ao CFO a projeção de um dado que não estava na apresentação original, será preciso refazer todas as etapas e voltar na próxima reunião do Conselho.

Processo novo: as informações e gráficos do relatório são geradas sem qualquer necessidade de intervenção humana, a partir de uma única fonte que reúne os dados da empresa, usando analytics e Big Data. É possível incluir filtros, fazer projeções, simular cenários, verificar tendências e detalhar números em tempo real.

Relatório de despesas – O funcionário pede o reembolso de gastos com transporte ou alimentação realizados em visitas a clientes. Uma das maiores preocupações da área financeira é assegurar a comprovação e veracidade das informações. Processo antigo: o profissional pede o recibo ao taxista ou estabelecimento, entrega à área de finanças, o gestor financeiro inclui no sistema e então gera o relatório.

Processo novo: quando há utilização do cartão corporativo, essa informação automaticamente é transmitida para a base de dados da empresa, sem necessidade de intervenção humana, reduzindo o risco de fraude. Já existe tecnologia que possibilita o registro a partir da foto do recibo enviada pelo funcionário.

Fluxo de aprovação – Realizar aprovações de notas fiscais, contratos, entre outras demandas, é uma atividade que pode consumir uma parte razoável do tempo do gestor financeiro. Processo antigo: o executivo precisa reservar tempo na empresa para acessar o computador, colocar seu login, fazer as verificações de segurança e realizar as aprovações.

Processo novo: o executivo acessa o sistema por meio de um aplicativo no celular, faz a autenticação de segurança e dá sequência ao fluxo de aprovações de onde estiver.

O impacto da tecnologia não irá mudar apenas a forma como nós, CFOs, realizamos nossas atividades cotidianas na era das empresas inteligentes. Exigirá, ainda, uma transformação de nossas habilidades e atitudes para que possamos liderar com sucesso a transformação digital em nossas companhias. É sobre essas competências que tratarei no próximo artigo.

 

As opiniões e conceitos emitidos no texto [acima] não refletem, necessariamente, o posicionamento do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças (IBEF) a respeito do tema, sendo seu conteúdo de responsabilidade do autor.

Fonte: http://ibefsp.com.br/a-transformacao-do-trabalho-do-cfo-na-era-da-empresa-inteligente/

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28 de novembro de 2018
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